Avaliação

Nas últimas décadas a avaliação ganhou uma dimensão abrangente, sendo utilizada inclusive por empresas a fim de garantir qualidade de produtos e evitar desperdícios.
Mas apesar desta visibilidade, a avaliação escolar ainda é um instrumento que afasta o aluno do professor, gerando desinteresse e conflitos em sala de aula.
Quando se trata de avaliação, não há uma fórmula pronta do que é certo ou errado, mas há sim formas diferenciadas de avaliar, que fogem da prova escrita e do simples trabalho em grupo.
Este blog poderá contribuir com o trabalho diário do professor, colaborando para que ele encontre outras maneiras de avaliar, para que ele modifique, reinvente, perceba e atualize a avaliação sem limites, simplesmente se permitindo experimentar e podendo assim transformá-la em uma grande aliada no processo de ensino-aprendizagem de seus alunos.




quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um pouco da história da avaliação no Brasil

Nos séculos XVI e XVII, no Brasil predominava a pedagogia jesuíta, com influência barroca e de característica expositiva, com leitura de textos, exercícios de memorização e concorrência oral. Predominavam a gramática, filosofia, lógica e teologia, como componentes curriculares.
Existe um documento publicado pelos Jesuítas denominado Ratio Studiorum, cuja tradução é Ordenamento dos Estudos na Sociedade de Jesus, onde observamos várias regras que utilizamos ainda hoje, como por exemplo:

• aluno não podia fazer solicitações durante a avaliação;

• o tempo era previamente definido para realização da avaliação, sem possibilidades de acréscimos;

• os alunos deveriam sentar separados, ressaltando a preocupação com a cópia ou cola.

Nesta mesma época, o Brasil também sofria influência da pedagogia de Comenius, que reforçava a necessidade do uso de exames para estimular estudantes a se esforçarem para conquistarem boas notas. Era um processo sacrificado de aprendizagem e que costuma ser acompanhado por humilhações e constrangimentos constantes, visto que quem não tinha boas notas era porque simplesmente não se dedicou como deveria.

Como trabalhar com campanha

Atividade planejada e sistemática que envolve o público em torno de um tema específico, utilizando, para isso, diversos meios de comunicação.
Objetivo: informar o público alvo sobre determinadas idéias e técnicas buscando o seu engajamento com o tema.
Como preparar esta técnica para alunos?
A partir de uma determinada situação do bairro, município, região, uma realidade atual, ou após uma visita técnica, coloque questões para reflexão dos alunos e faça com que eles criem seus próprios conceitos a fim de levantar algumas soluções para tal situação.
Faça da escola o local de campanha, peça que eles criem logotipos e espalhe cartazes e informações a fim de conscientizar as pessoas.
Como avaliar?
• Organização.
• Respeito a diversidade.
• Participação.
• Adequação ao público alvo.
• Criatividade.

Como trabalhar com portfólio

É uma modalidade de avaliação do ensino e aprendizagem que surgiu em 1980 e emergiu no campo da Arte.
É um instrumento de avaliação considerado de natureza qualitativa, sendo potencialmente um dos mais adequados para acompanhar a aprendizagem dos educandos. Esse tipo de instrumento é ideal, pois favorece não apenas o registro da produção dos saberes realizada pelo aluno no ambiente escolar, mas o registro de suas experiências e de suas produções extraescolares.
Como preparar esta técnica para alunos?
Solicite uma pasta, prepare os alunos para organizarem uma coletânea de registros do cotidiano, como um memorial das atividades da escola, podendo enriquecê-lo com diferentes registros de sua produção extraescolar, tais como textos, poesias, músicas, desenhos, matérias lidas em jornais, revistas, entre outros.
O importante é incentivar o aluno a organizar e fazer anotações pertinentes a cada nova organização.
Além disso, faça com que o aluno sempre analise o portfólio como um todo, para que ele tenha noção do quanto evoluiu.
Como avaliar?
• Registro de idéias, experiências ou opiniões.
• Organização.
• Coerência das informações.
• Facilidade da leitura do aprendizado.

Como trabalhar com dramatização

Essa técnica demonstra que os alunos podem aprender desempenhando papéis próprios da realidade profissional.
É fundamental que todos assumam integralmente seus papéis, comportem-se como tal, defendendo posições próprias dos papéis e que procurem ter as reações e atitudes próprias dos personagens.
Como preparar essa técnica para alunos?
Prepare os alunos para vivenciar uma situação real, peça para que eles pesquisem sobre o personagem que vão interpretar, sem exageros, próximo a realidade.
Esta técnica poderá ser utilizada como fechamento de uma teoria na prática, dando a oportunidade dos alunos desenvolverem habilidades e atitudes.
Como avaliar?
• Participação.
• Criatividade.
• Objetividade.

Como trabalhar com estudo de casos

Essa técnica posiciona o aluno em contato com uma situação real ou simulada.
Real, quando o professor apresenta acontecimentos e fatos já vivenciados e simulada quando o professor quer que o aluno aprenda determinados conceitos, valores, criando situações para despertar a aprendizagem no aluno.
Existem duas opções para utilizá-la:
1. pode ser usada após um estudo teórico, aplicando a sua prática, permitindo uma revisão e fechamento do assunto.
2. pode ser usada como uma introdução a uma aprendizagem, antes do estudo teórico, para que seja motivador para o aluno busque informações necessárias para resolver o problema, entrando em contado com a teoria, através de bibliografias previamente orientadas, permitindo autonomia na aprendizagem do aluno.
Como preparar essa técnica para alunos?
• Esclareça que esta técnica prepara o aluno para enfrentar uma situação real, é uma preparação para futuras situações.
• Inicie essa técnica pela opção 1, que tem maior facilidade de assimilação.
• Faça junto com os alunos uma análise diagnóstica da situação, levando em conta as variáveis do componente.
• Deixe que os alunos se comuniquem para chegar a solução, isso fará com que eles aprendam a trabalhar em grupo.
Como avaliar?
• Interesse.
• Iniciativa.
• Coerência de informações para chegada da solução.

Como trabalhar com debate

Permite ao aluno valorizar o trabalho em grupo, percebendo como a discussão e as experiências de todos são mais ricas do que uma só pessoa.
Há alguns pressupostos básicos para o funcionamento desse instrumento:
• o professor deve dominar bem o assunto sobre o qual se dará o debate.
• o tema indicado pelo professor deverá ser preparado pelos participantes do debate com leituras, pesquisas anteriores e vídeos, trazendo o material preparado para a discussão.
• o professor deverá garantir a participação de todos, evitando o monopólio das intervenções por parte de alguns apenas. Todos deverão ter oportunidade para fazer uso da palavra. Inclusive o próprio professor precisará se policiar para não interferir a todo instante e com grande tempo de manifestação, mesmo que seja para resolver mais rapidamente a questão apresentada. Esse comportamento pode comprometer os objetivos da própria estratégia.
Como preparar essa técnica para alunos?
1. Deixe muito claro que os alunos devem respeitar a opinião de todos e que cabe a você a ponderação dos comentários.
2. Informe os critérios de avaliação.
3. Explique para os alunos que em um debate, todos tem que ter a chance de falar, e que para isso acontecer, não se deve prolongar muito seus argumentos. E que é importante a manifestação de todos, sem medo de julgamentos.
4. Escolha temas do dia-a-dia, rotineiros, que sejam relacionados com a região, ou com uma realidade próxima.
5. Leve um recorte de uma reportagem de jornal, revista, um pequeno vídeo de reportagem sobre o assunto.
6. Comece com um questionamento brando, que tenha uma certa lógica na resposta, para que os alunos sintam-se a vontade para iniciar seus argumentos.
7. Aumente gradativamente a profundidade do assunto, sempre avaliando se será possível essa evolução.
8. Não interrompa os alunos, nem os reprima, caso haja algum comentário incorreto, anote e deixe para relatar nas considerações finais, sem apontar quem foi que o fez.
9. Lembre-se que em se tratando de opinião, não existe uma resposta certa ou errada.
10. Incentive e elogie as colocações, com simpatia e sinceridade.
Como avaliar?
Se o objetivo principal desta técnica for permitir ao aluno expressar-se em público, avalie se o aluno:
• apresentou suas idéias, reflexões, experiências.
• se ele soube ouvir os outros (não interrompeu, nem repetiu o que outro colega já abordou, sem acréscimos).
• se ele respeitou a opinião distinta da dele.
• argumentou quando questionado.
• defendeu suas próprias posições com coerência e respeitosamente.
• não perdeu o foco do assunto.

Como trabalhar com projetos

O objetivo do ensino por projetos é conectar o conhecimento escolar com o saber social, fazendo com que o aluno entenda o valor da aprendizagem e crie um vínculo com a rotina da escola.
O professor planeja as ações concretas e reais de um projeto, por exemplo, melhorar finanças domésticas. Cada aluno fará uma análise das finanças familiares e através do projeto, encontrará formas de economizar e aplicará em sua realidade. Pode ser também, diminuir o desperdício de água na escola, como também, diminuir o desperdício de comida no horário de almoço na escola.
Como preparar este instrumento para os alunos?
1. Identifique um problema.
2. Levante hipóteses e sugestões juntos com alunos.
3. Verifique a viabilidade do projeto.
4. Comunique e negocie com a coordenação e direção sobre a elaboração (é muito importante que todos os envolvidos saibam o que está acontecendo).
5. Documente e registre as etapas do processo.
6. Publique e divulgue os resultados.
Como avaliar?
• Participação.
• Organização.
• Criatividade.

Critérios de Avaliação

Experiência não é sabedoria, muitas pessoas passam anos ao lado dos acontecimentos sem apreender seus significados. Sabedoria vem do saber e do gostar, pois este verbo procede do latim sapere que é igual a saborear.
Os anos nos dão experiências, mas o prazer de atuação e a motivação para evoluir e melhorar nossas práticas nos concede sabedoria.
Em se tratando de avaliação escolar, não existe uma receita pronta infalível ou um certo ou errado, mas existem algumas técnicas que podem ser iniciadas e lapidadas de acordo com o perfil da turma, com as experiências do professor e com o espaço e ambiente escolar.
Utilizar estas técnicas e aperfeiçoá-las pode fazer com que o professor saboreie a avaliação e sinta maior segurança e disposição para avaliar com sabedoria.

Iniciando a Técnica: Critérios de Avaliação

A definição e divulgação dos critérios avaliativos são duas ferramentas aliadas para um resultado final claro e transparente, além de munir o professor de elementos preciosos para tomada de decisão, garantindo um processo avaliativo tranquilo e eficaz.
Mas é necessário seriedade, conhecer exatamente o significado de cada um dos critérios estabelecidos e relacioná-los diretamente com o instrumento de avaliação escolhido.
O interessante é indicar dois ou três critérios, para que não se perca o objetivo que é alcançar competências previstas.
O quadro que segue apresenta exemplos de critérios (clique no quadro para visualizar):


Avaliar Competências

Com tantas mudanças no ensino por competências, não se pode restringir-se às tradicionais avaliações, provas escritas e entrega de trabalho.
O conhecimento antes da proposta de ensino por competência era fragmentado, divido por disciplinas, memorizador e cumulativo. Pela nova proposta, deve ser trabalhado de uma forma interdisciplinar, contextualizado e privilegiando a construção de conceitos.
O professor era somente o transmissor de conhecimento, com a mudança ele torna-se um facilitador da aprendizagem, mediador de conhecimento, um orientador.
Já o aluno era receptor de informações, memorista e passivo, com a transformação, passou a ser o foco, construtor de conhecimento, cidadão, agente do processo.
A avaliação era classificatória, excludente e seletiva, com o ensino por competência, ela virou feedback, formativa e avalia o aluno como ser humano completo.
Podemos nos inspirar nos princípios de avaliação autêntica elaborada por Wiggins (1978), para ele a avaliação :
• não inclui nada além das tarefas contextualizadas ;
• diz respeito a problemas complexos ;
• deve contribuir para que os estudantes desenvolvam ainda mais suas competências ;
• deve exigir a utilização funcional dos conhecimentos disciplinares ;
• não deve haver nenhum constrangimento de tempo fixo quando da avaliação das competências ;
• a tarefa e suas exigências são conhecidas antes da situação de avaliação ;
• exige um certa forma de colaboração entre os pares ;
• leva em consideração as estratégias cognitivas e metacognitivas utilizadas pelos estudantes ;
• a correção não deve levar em conta o que não sejam erros importantes na ótica da construção de competências.

Ensino por competências

Segundo Philippe Perrenoud (2000) em entrevista a revista Nova Escola em 2000, esclarece que ensino por competência é faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações.
Por exemplo, saber fazer orçamento financeiro simples, evitar gastar dinheiro com supérfluos, pagar as contas em dia para evitar multas, pesquisar e comparar preços mais vantajosos. Outros exemplos seriam: saber fazer um discurso em sala de aula, saber selecionar uma boa introdução, trabalhar o tom de voz e demonstrar simpatia e desembaraço.
O ensino por competências veio para fazer com que o aluno aprenda e utilize os conhecimentos adquiridos na escola, por toda sua vida. É como se fosse um treinamento para o dia-a-dia. Mas esse tipo de aprendizagem só acontecerá se a transferência de capacidades e conhecimento for realizada através da contextualização. O aluno deve visualizar, sentir e reconhecer significado naquilo que aprende. A partir daí criam-se os saberes.
Uma opção que os professores têm para modificar suas ações e conseguir ensinar por competência é trabalhar com projetos, como veremos mais adiante, fazendo com que os alunos formulem ideias, concepções, provocando o aluno a investigar, a identificar uma solução de um problema, sentir-se desafiado e motivado a aprender.
Mas o maior desafio é transformar os hábitos de ensinamentos dos professores, a repensar a rotina de sua profissão.

Para Perrenoud (2000) o professor deve saber:
gerenciar a classe como uma comunidade educativa ;
organizar o trabalho no meio dos mais vastos espaços-tempos de formação (ciclos, projetos da escola) ;
cooperar com os colegas, os pais e outros adultos ;
conceber e dar vida aos dispositivos pedagógicos complexos ;
suscitar e animar as etapas de um projeto como modo de trabalho regular ;
identificar e modificar aquilo que dá ou tira o sentido aos saberes e às atividades escolares ;
criar e gerenciar situações-problema, identificar os obstáculos, analisar e reordenar as tarefas ;
observar os alunos nos trabalhos ;
avaliar as competências em construção.

Os enganos do cálculo da média

Calcular médias das notas dos alunos é uma das maiores falhas dos educadores. Todo aluno também espera que suas notas sejam somadas e divididas pelo número de avaliações que realizaram.

A média maquia a realidade. Para um aluno, por exemplo, que tirou na primeira avaliação zero, na segunda avaliação, três e na última, oito, o professor soma as três notas, divide por três o e lança a nota três e meio de média final.
Se um outro aluno tirou na primeira avaliação oito, na segunda seis e na última um, o professor repete o procedimento e lança a nota cinco de média final.
Observamos que no caso do primeiro aluno houve uma evolução, mas ele não conseguiu a nota cinco e está reprovado. Já o segundo aluno está aprovado, mas provavelmente não atingiu as competências previstas, pois não houve progressão e sim recuo da nota.

Avaliação como medição

Nos Estados Unidos e na Europa em meados do século XIX, foram criados alguns métodos para melhorar os resultados da aprendizagem, como por exemplo, os testes objetivos, em que havia maior número de questões e que deixaram de ser gerais e passaram para perguntas específicas.
Esses testes eram utilizados para controlar e medir o que cada estudante aprendeu. Também eram utilizados estatisticamente para verificar a quantidade de conteúdos assimilados.
O papel do avaliador na fase de mensuração era fundamentalmente técnico, orientado por princípios que evidenciavam a inflexibilidade, a imparcialidade, a objetividade e a quantificação. (RIBEIRO, 1992, p. 13)
A partir desses estudos de métodos, foram nascendo vários modelos de avaliação, como por exemplo, avaliação por objetivos, avaliação sem objetivos, avaliação interna, avaliação externa, avaliação natural, avaliação diagnóstica, formativa e somativa, avaliação diagnóstica, de entrada, processo e produto, entre outros.
Neste contexto, a única preocupação era com os procedimentos de avaliação e não com a prática. Eram tantas as possibilidades que já não havia um entendimento de que em que momento aplicar cada método. Com tantas dúvidas, o que prevalecia nas práticas ainda era o autoritarismo.
Os exames são pontuais (não interessa o que estava acontecendo com o educando antes da prova, nem interessa o que poderá acontecer depois, só interessa o aqui e agora), são classificatórios e excludentes ou seletivos. Werneck (2005).
O autor aborda ainda que a avaliação é exatamente oposta às características do exame, sendo não-pontual, diagnóstica e inclusiva, ou seja, no processo de avaliação interessa o que estava acontecendo antes, o que está acontecendo agora e o que acontecerá depois com o educando, avaliando o aluno como um ser humano em desenvolvimento e em construção constante.